O
LÍRIO DO VALE - sustentabilidade
é uma decisão
Bem fácil especular sobre as razões de termos
chegado aonde viemos parar, mas nos argumentos honestos da auto-responsabilidade
é onde está o real motivo de habitarmos num lar que, há muito, adoeceu e que,
dia após dia, envelhece.
A derrocada do mundo nada mais é do que
nosso fracasso como mordomos da Terra. É nosso equívoco na função de zelar pelo
planeta e é a nossa incapacidade revelada pelo fato de não termos conseguido
cumprir o mandado divino de cultivá-lo e guardá-lo (Gênesis 2: 15). Sim, cultivar
e guardar; éramos para ter sido mais comprometidos ao conjugar os verbos que o
Verbo nos confiou.
Fomos parar num vale de absurdos, com taludes
enormes de cada lado, íngremes, erguidos por negligência ou mau uso da
configuração original que, aliás, consistia de um jardim perfeito.
Atribuições distorcidas e... pronto:
paisagem degradada. E ainda hoje não aprendemos a manejar o lote. Alguns bem
que tentam; outros tantos acertam aqui e ali. Porém, no balanço das horas, as atitudes
tornam-se conflitantes, as incursões se desconectam, planos perdem-se das metas
e os objetivos não chegam aos alvos propostos.
Tudo e todos compartilham lugar num vale
profundo e escorregadio, de onde os esforços para vencer a escarpa ou alterar o
relevo – quem dera! – parecem ter pouca ou nenhuma capacidade de mudança.
Por graça, como os desertos têm oásis
refrigerantes, os vales podem ter sopés férteis. Se olharmos direito, veremos
que no vale, nesse inóspito vale, floresce um Lírio (Cântico dos Cânticos 2: 1).
Ele nunca murcha, não Se abala pelas intempéries. Nada afeta Sua beleza e há em
Seu perfume uma nota tão suave que nem mesmo o potente fixador de Sua
fragrância ofende-Lhe a delicadeza ou Lhe altera a essência. Quando todas as
coisas passam, Ele permanece; e quando todas as coisas mudam, Ele é o que é. Quando
todos vacilam e até sucumbem, Ele subsiste; Se basta. Sustém a Si mesmo e,
ainda que o caos se instale, Ele sustenta tudo, absolutamente tudo ao redor.
Sustentabilidade é uma semente (Gênesis 1: 11,12
e 29); uma semente que floresce e que veio, desde sempre, dentro do fruto do Amor
(1 João 4: 8). Sustentabilidade é cultivar do jeito que o Amor cultiva e
guardar do jeito que o Amor guarda. É amar do jeito que o Amor ama.
Bem, talvez não tenhamos sido os primeiros a
nos darmos conta disso; não sejamos, no entanto, os últimos a colocar essa
verdade em prática.
Ademais, vamos conviver por mais algum
tempo neste nosso precário berço que ainda embala belezas naturais. É certo que
muito breve estaremos de casa nova (Apocalipse 21: 5). Mas entre o breve e o
agora jaz um tempo que não nos foi dado conhecer (Mateus 24: 36). Pois que seja
para a chance, a oportunidade de aceitar cumprir aquele mandado e praticar uma
mordomia de excelência enquanto aguardamos. Êxito, senso do dever cumprido,
satisfação por fazer o que é certo, bem estar mútuo... Por mais que a ideia
voe, cada um de nós nem imagina até onde uma atitude acertada, sustentável, pode
replicar.
Assim, escolha uma ação, ainda que pequena. Cultive-a
e a faça brotar. Guardá-la – no amplo sentido do termo – é tudo aquilo que você
vier a fazer depois. Se sua ação florescer, devolver-lhe frutos e você os
compartilhar, isso é sustentabilidade.
Então, eu pergunto, por que
ficar no lado escuro do vale e preferir ser uma sombra estéril? Como – concluo –
olhar para o Lírio do Vale, Autor do Universo, e não se sentir amado por Ele ter escolhido descer; e não se sentir grato ao ponto de decidir ser para o mundo, a exemplo dEle, uma flor???!!!
SJ
Fonte da imagem: acervo autora